As Bem-aventuranças os que têm fome e sede de justiça

Mateus 5:6

Fome e sede! Quem deseja ter fome ou sede? O que há de bom nisso? Segundo o pensamento humano, é a abundância e a vida tranquila que representa a felicidade e a boa ventura. Dizemos que são felizes os que estão satisfeitos. Mas, a fome e a sede? Isso está mais para um quadro de pessoas que sofrem necessidade, uma condição desesperadora. Faz-nos pensar nos mendigos, nos grandes bairros nas cidades, nos países inteiros onde domina a fome e a necessidade. É uma condição que tentamos evitar a todo custo.

Mas, quer saber? Jesus viu isso a partir de um ponto de vista muito diferente quando declarou: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos”. Aqueles que sentem sua necessidade desesperadora por Deus são os dignos de fazer parte do seu reino, os tais que encontram a felicidade e a satisfação que verdadeiramente sacia e perdura. Analizemos o que isso significa para nós.

No Salmo 42:1, 2, vemos uma comparação que explica claramente o que a fome e a sede para Deus fazem. Diz: “Assim como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus?” Aqui vemos um cervo no deserto, talvez fugindo dos lobos que o perseguem. Já completamente exausto e cansado, o cervo brama, buscando com ansiedade o córrego onde possa satisfazer a tremenda sede que traz. Esse quadro expressa uma condição de urgência e desespero que Jesus classifica como feliz.

As palavras “brava” e “suspira” neste salmo são a mesma palavra no texto original em hebraico. Sem dúvida, o salmista conhecia bem esse bramido do cervo e, desde o profundo de sua alma, brotava o mesmo suspiro por satisfazer sua própria sede. Sua alma sentia um desespero por algo, era alguma coisa específica. Esse “algo” era a presença de Deus que sacia a alma.

A fome e a sede não somente nos fazem clamar, mas também buscar com esmero o que possa saciar. Desperta-nos à noite e nos faz madrugar com a finalidade de encontrar comida. Sabemos que se não encontramos com que satisfazer essa necessidade, a morte bate à porta. Isso me faz recordar um percalço aéreo no ano de 1972 quando um avião da Força Aérea Uruguaia se chocou nas alturas andinas, próximo à fronteira da Argentina com o Chile. Durante muitos dias, os sobreviventes lutaram unidos para vencer as intempéries do frio severo, da neve... e da fome. Depois de acabadas as escassas guloseimas que encontraram entre a bagagem dos passageiros, começaram a comer o couro das vasilhas. Romperam os assentos da aeronave e comeram a palha que encontravam dentro deles. Finalmente, chegou o dia em que a fome aguda os levou a um extremo desespero. Concordaram em comer a carne dos companheiros falecidos. Essa foi uma experiência que mostra até que ponto chega o ser humano com a finalidade de satisfazer o que chamamos de fome.

O que haveria ocorrido se aquelas vítimas do acidente aéreo não tivessem sentido fome? Sabemos que não teriam sobrevivido. Por que não gastaram seu tempo e energias na satisfação dos desejos do esporte, diversões, prazeres e outras atividades que, em circunstâncias normais, talvez tivessem buscado com esmero? Em sua condição, prover alimento para o corpo era o mais importante. Era uma questão de vida ou morte. Coisas que em outras circunstâncias teriam dominado sua atenção, agora não significavam nada em face à necessidade urgente que enfrentavam.

Agora, voltemos ao contexto do que disse Jesus. Será que nossa fome e sede por Deus é de tal modo a fazermos qualquer coisa com a finalidade de encontrar e não perder a bendita satisfação de sua presença em nossa vida? Ou nos encontramos caídos em um conformismo e mornidão de tal maneira que apenas sentimos a grave falta de tal bênção? Jesus nos diz: “Pedi... buscai... batei...” (Mateus 7:7). Além disso, 1 Pedro 2:2 nos diz: “Desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional [espiritual, na NVI, RA, NTLH e AA]” (Ver também Mateus 6:33 e Colossenses 3:1).

Jesus continua dizendo-nos que é de justiça que devemos ter fome e sede. Por que é tão necessária a fome e a sede por justiça? Por que é tão desejável a condição de fome e sede quando, segundo o pensamento humano, é algo a evitar a qualquer custo? Para a resposta a essas perguntas, voltemos ao nosso texto em Mateus 5:6.

Fome e sede de justiça. O que é justiça? Essa palavra tem vários significados na Bíblia. Mas, nesse caso, refere-se ao que é reto, ao que está totalmente conforme a vontade de Deus e segundo seu caráter. Jesus quis mostrar-nos que a busca por Deus, sua retidão e sua vontade para nós é a busca mais nobre e importante que há. Além de ser a mais nobre, é a única que verdadeiramente sacia. Lembre-se, sem água o cervo no deserto morre; sem comida, os passageiros daquele avião não teriam sobrevivido; e sem justiça, a alma nunca se sacia.

Há outra razão pela qual a fome e a sede por justiça é tão importante e desejável. A Bíblia nos ensina claramente que é um passo básico e imperativo para se entrar no reino de Deus. Lucas 15:16-17 nos descreve a condição extrema a que havia chegado o filho pródigo. O que foi que o fez tomar a decisão de voltar a seu pai? Foi a fome extrema. Tudo o que ele acreditava que saciava seus apetites carnais se desvaneceu em face ao seu estômago que gritava algo que, verdadeiramente, o satisfizesse. 1 Pedro 2:2 nos ensina que esse desejo por justiça não é somente o primeiro passo para se entrar no reino de Deus, mas também é necessário para o crescimento diário em nossa vida cristã. A palavra desejar nesses dois exemplos que já vimos significa um impulso interno e um desejo com ansiedade. Mas o inimigo de nossas almas dedicou-se a inventar alternativas para saciar a alma. Ele sabe muito bem que aquele que se sacia de justiça, viverá. Ele também sabe que qualquer outra alternativa é um engano. Nunca sacia e seu fim é a morte. O engano das riquezas, os prazeres, a fama, o sexo ilegal, as diversões e tantas coisas mais dão a aparência de satisfação, mas nunca saciam a alma. O que elas fazem é aplacar um pouco a fome e a sede de justiça, mas não sustentam nada.

Vejamos algumas causas da falta de um apetite espiritual:

  1. Uma criança que vive comendo lanches e guloseimas perde o apetite pela comida sólida e boa. Essas coisas roubam seu apetite para a comida que realmente alimenta. Uma criança assim não desfrutará da mesma saúde que outra que se alimenta com uma comida nutritiva. De igual modo, se permitirmos que nossa vida seja alimentada por coisas que nos roubam o apetite para o alimento espiritual, a vida espiritual vai sofrer e enfraquecer. Se o enfoque estiver nas coisas terrenais, as espirituais perdem sua atração.
  2. Quando alguém está enfermo, muitas vezes a comida não chama atenção. Às vezes, torna-se repugnante e causa náuseas somente pensar nela. O mesmo ocorre na vida espiritual, quando estamos espiritualmente enfermos, perdemos o apetite. Não há um desejo forte para as coisas de Deus. Além disso, perde-se o interesse e o desejo completo pelo alimento spiritual e a vida vai rapidamente em declínio. O enfermo, se não tiver o problema da saúde solucionado, com o tempo morre se não se alimentar. É o que também acontece com a vida espiritual. Não podemos existir por muito tempo sem a alimentação espiritual. A enfermidade espiritual vem devido a diferentes coisas, mas muitas vezes tem raiz em algum pecado que não se quis confessar e solucionar. O pecado não permite que a vida espiritual floresça.
  3. No Apocalipse, lemos acerca da condição de ser morno e do repugnante que isso é para Deus (Apocalipse 3). Trata-se de uma situação na qual se descuidou manter viva a relação com Deus. É perder o amor ardente e fervente com o qual se iniciou a vida cristã. A Bíblia nos ensina que devemos nos arrepender dessa condição, pois Deus não pode aceitá-la e precisamos voltar-nos a Deus com entusiasmo e disposição. Nessa situação, perde-se o apetite pelas coisas do alto, a fome e a sede de justiça. Trata-se de uma condição muito preocupante porque Deus diz que ele terá que vomitar... expulsar tal pessoa que continua nessa condição.

O desejo, a fome e a sede, é algo que o salmista Davi experimentou e nos conta nos salmos. “Ó Deus, tu és o meu Deus, de madrugada te buscarei; a minha alma tem sede de ti; a minha carne te deseja muito em uma terra seca e cansada, onde não há água; Para ver a tua força e a tua glória, como te vi no santuário” (Salmo 63:1, 2). É impressionante ver seu empenho em buscar a Deus. De madrugada, cedo de manhã, antes de fazer qualquer outra coisa, ele buscava a Deus. Antes de fazer qualquer plano para o dia, antes de que houvesse outras influências ou distrações, passava tempo com Deus buscando a orientação dele. Davi, sobretudo, desejava o favor de Deus em sua vida. Seu objetivo primordial e supremo era Deus. Seus primeiros pensamentos do dia foram dele. Buscava a Deus no tempo mais adequado e com menos estorvos. Antes de qualquer outra coisa na vida, seu enfoque era buscar a Deus. A sede que sentia era algo veementemente forte. Buscar a Deus era sua prioridade.

Voltemos de novo às palavras de Jesus: “os que têm fome e sede de justiça serão saciados”. Jesus nos deixou uma bela promessa que é para todo aquele que “busca”, achará (Mateus 7:8). Essa promessa é para, pelo menos, duas classes de pessoas:

Deus criou o ser humano com a capacidade espiritual. Ele colocou seu espírito nele. Quando o homem pecou e foi separado de Deus por seu pecado, isso deixou um vazio que nada pode preencher, a não ser o próprio Deus com seu Espírito. A promessa de Jesus em Mateus 5:6 e Mateus 7:8 é para todos aqueles que, estando separados de Deus sentem uma profunda necessidade e desejo de preencher aquele vazio criado por Deus em sua vida. Jesus diz que o que sinceramente buscar “a justiça” de Deus será saciado e a encontrará.

O crente, que entregou sua vida a Deus e segue o Senhor Jesus Cristo em seus passos, precisa de constante alimentação espiritual. A promessa de “serão fartos” é para o crente que “busca primeiro o reino de Deus” e “tem fome e sede” da alimentação e da presença de Deus em sua vida. Jesus diz que essa pessoa encontrará satisfação. Encontrará o que necessita.

Podemos entender o que, à primeira vista, parece ser uma contradição... a bem-aventurança de sofrer fome e sede? A promessa da Palavra de Deus se cumpre unicamente sob estas condições; por isso, dizemos que constitui uma bênção desejável e abençoada. Para ser saciado é preciso uma busca ansiosa, fervente e diligente. Essa busca deve ser a mais forte em nossa vida e a que nos impulsiona acima de qualquer outro impulso. É a condição que Deus precisa ver em todo ser humano para poder enchê-los com o alimento e a bebida espiritual a fim de saciá-los.

Tem você, querido leitor, “fome e sede de justiça”? Está experimentando a saciedade e a satisfação que Deus oferece? Ou há algo que lhe está diminuindo o apetite? O desejo de Deus é que você desfrute da plenitude de Cristo em sua vida. É possível desfrutar dela hoje mesmo.

De: A Tocha da Verdade #16

Detalhes
Idioma
Portuguese
Autor
Duane Nisly
Editora
Editora Monte Sião

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